Não entendo o 102. Ok, riam de mim.
Liguei, pedi o telefone do radio-táxi. A mulher disse para eu aguardar: "Tu-tu-tu". Que droga! Desliguei, liguei de novo. Depois de me mandar aguardar, ela diz "Só com nome e endereço. Tu-tu-tu..." Esperei, nada.
Mochila nas costas, bolsa no ombro; mala numa mão, frasqueira e saco de lixo na outra. Não se engane pela naturalidade com a qual falo da mala, ainda não sei como cheguei com tudo isso até o ponto de táxi. Não tudo, o saco de lixo ficou no subsolo do condomínio. E também não foi sem umas quatro paradas no meio do caminho. Em uma delas, sob a sombra de uma pequena árore de folhagem esparsa, olhei o relógio: 16:15. Havia tempo.
O suor descendo o rosto pelos caminhos que percorrem as lágrimas quando derramam-se, chego ao ponto, onde todos os dias vejo dois ou três carros parados. Agora, nenhum. O peso da mala, carregada no ombro direito na maior parte do caminho, machucara minha perna esquerda. A dor e a agonia da espera não foram uma boa mistura. Os minutos passavam-se, e nada. O ponto já estava cheio de pessoas especulando sobre que meios alternativos poderiam usar para chegar aos seus destinos. Eu não tinha alternativa. Não conseguiria carregar aquela mala mais um metro. Coloquei a perna em uma posição infeliz; as lágrimas disfarçadas percorreram o caminho já molhado pelo suor.
Era 16:45 quando o primeiro táxi chegou. "Você vai pegar ônibus às 17h? Pede pra ele ir pelo túnel, que vai rapidinho!" Se formara um grupo de apoio e torcida no ponto, para que eu chegasse a tempo na rodoviária. Dentro do táxi, tive que pedir para o motorista sair rápido e deixar a senhora que lhe reclamava da demora falando sozinha. Ele quis fazer piadinhas, mas meu mau-humor limitou-me a um sorriso forçado.
"Olha a fila, vou passar por aqui."
"Moço, já pega o dinheiro. Quando eu chegar lá vou sair correndo."
"Qual é a companhia?"
"Reunidas. Alô? Oi, você pode segurar o ônibus para Rio do Sul das 17h? Eu estou entrando na rodoviária!"
"Só um minutinho."
Antes de sair do táxi, o motorista alcançou-me um real que sobrou do valor que lhe paguei.
"Quer ajuda?" - diz o moço sorridente com um carrinho de bagagem.
"Sim. Mas eu preciso correr."
Atravessei o portão A, e lá estava ele. "Florianópolis- Rio do Sul". Ufa. Alcancei a nota de um real que ainda estava em minha mão ao rapaz que ajudou com a mala. Ele olhou para ela, olhou para mim, mas não sei com que expressão.
Após horas de sono, pensamentos e Strokes, as torres iluminadas da igreja erguem-se à minha frente. Vejo, através das ruas transversais, lojas com luzes brancas e coloridas. Um prédio embrulhado de presente, com um gigante laço vermelho; meu deus!
Tanto trabalho para chegar a essa cidade quente, onde não há vento ou praia. Onde os carros têm câmbio automático e o chuveiro demora a esquentar.
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