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terça-feira, outubro 24, 2006

Muito Além da 'Economia' Solidária

“Eu não preciso disso, mas eu adoro.” É assim que a aposentada Edeltraut Klann, 51 anos, fala do seu trabalho em uma cooperativa de economia solidária. Ela está entre os 30 expositores que participam da Feira da Economia Solidária, de 23 a 25 de outubro, durante o 3º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária (CEBEU). A feira reúne grupos e cooperativas incentivados por projetos de universidades.
A economia solidária é um movimento nacional. Ela consiste na criação de grupos de produção, comércio, consumo ou serviços coletivos organizados na auto-gestão. Não existe a figura do patrão ou presidente. Há uma delegação de cargos e funções, mas todos os sócios são donos dos meios de produção e dividem os lucros igualitariamente. Os grupos são geralmente formados por pessoas que se identificam e se unem, proporcionando a própria inclusão no mercado de trabalho: Mulheres, moradores de periferia, portadores de necessidades especiais, afro descendentes, presidiários, entre outros.
São quase 15 mil empreendimentos em todo Brasil, de acordo com o relatório do Sistema de Informações em Economia Solidária (SIES) de 2005. As cooperativas têm em média 83 sócios, mas este número varia muito. Os grupos que participam da feira no CEBEU têm, em geral, até 10 participantes. Já o maior empreendimento de auto-gestão do país, a Usina Catende (PE), tem cerca de sete mil sócios. A usina faliu na década de 90 e foi assumida pelos trabalhadores, que mudaram o nome para Companhia Agrícola Harmonia. Mesmo participando do movimento da economia solidária há dez anos, Idalina Maria Boni, membro do Fórum Brasileiro de Economia Solidária, se espanta com o feito desses trabalhadores. “Não sei como se faz uma cooperativa com sete mil pessoas”, diz ela rindo.
A Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES), abriu um edital de projetos para a criação de centros públicos, onde as cooperativas podem produzir e comercializar os seus produtos. Em Itajaí, o Fórum Municipal de Economia Solidária encontrou apoio na Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) para implantar um centro público com lanchonete, biblioteca, auditório e salas para reuniões. A universidade contribui disponibilizando auxílio dos cursos de Direito e Ciências Contábeis e criando novos produtos.
Foi criada uma “equipe de encubagem”, que ajuda os grupos informais a se organizarem para receber seus direitos trabalhistas e legitimar a sua situação. Bruno Werner Schimidt, que participa do projeto da UNIVALI, destaca a importância da criação e organização destes grupos. Ele diz que trabalhar sem ser submetido à exploração, participando das decisões e responsabilidades, traz uma grande satisfação. Todo o processo é coletivo, cada um procura conhecer e entender todo o processo. “Se o grupo não vai bem, você também tem uma responsabilidade nisso.” Bruno ainda ressalta o viés ambiental do movimento. Todos esses fatores, a seu ver, contribuem para o ambiente prazeroso do trabalho coletivo.
Edeltraut é o exemplo de quem trabalha porque gosta. Em 2002, depois de se aposentar trabalhando na indústria, ela entrou em uma cooperativa de produção de roupas. A Fino Toque Têxtil Cooperativa, de Blumenau, tem 19 sócias, mas apenas 3 delas atuam diretamente na produção, Edeltraut é uma delas. Com aluguel e a matéria-prima cara, não sobra muito lucro. Com as dificuldades econômicas que o país enfrenta, Edeltraut teme pela continuação do projeto. Hoje ela trabalha das 7h às 18h, mesmo sem precisar do dinheiro. Na cooperativa Edeltraut aprendeu coisas que nunca havia feito. Agora ela faz corte, modelagem, e participa de várias feiras na região. No CEBEU, diz que vendeu muito pouco. Mas ela tem esperanças de vender mais até o final do congresso, e não desanima. “Uma realização para mim foi conseguir comprar a casa. A segunda foi participar deste projeto.”

Um comentário:

Anônimo disse...

uuu! já pode escrever pro "A Cidade", =P hehehe

té...