Eu também quero uma vida.

"Isso não é vida".

Não que haja algo de errado com ela. Mas quero que VIDA seja algo importante, algo emocionante, algo vivo! Portanto esta não é minha vida. Minha vida é a vida que eu vou inventar...

Primeiro, não engordei aqueles... tantos quilos.

Eu leio. Almoço, janto, devoro os livros. Todos aqueles que eu quero tanto conseguir ler, mas sempre acabo na frente da tv procurando filmes de romance ou jogada na cama cantando. Ah! E eu canto, repiro pelo diafragma, levando o pálato. Também toco piano. E violão. E flauta transversal, que nem aquela intercambista alemã que não abria a boca pra nada, só o suficiente para soprar as notas do Hino Nacional (Brasileiro).

Não consigo comer mais que uma tirinha da barra de chocolate - e sem efeitos colaterais. Como sinto vontade de comer chocolate quando leio, se eu lesse tanto não seria possível a primeira proposição da minha suposta vida. Só se eu não tivesse vontade de comer chocolate ao ler... Mas eu gosto disso. Eu poderia é não ter tanta vontade de comer quando vejo televisão. Mas afinal, o que é a vida senão comer?

Comendo ou não, vejo filmes toda semana. E magicamente sempre dou de cara com o filme perfeito toda terça-feira na locadora. Nas sextas, vasculho com os olhos a prateleira dos filmes com devolução 48h, amontoados, e encontro bem aquele que me recomendaram. Sempre que durmo no sofá acordo com um filme bom no Telecine. Como iogurte, granola, salada de frutas e queijo minas.

Encontrar, essa é a palavra-chave! Só entro em lojas de CDs organizadas por gêneros e com plaquinhas marcando a letra inicial do artista. ENCONTRO Train, Iron & Wine, Snow Patrol, The Shins... E gosto de todas músicas de um CD, ou de nenhuma. E gosto dos que custam menos que R$25. Sammy Davis Jr ainda está vivo. Ah, estou passando um pouco dos limites da MINHA vida.

Eu tenho milhares de idéias. Eu escrevo. Eu ainda escrevo poemas... Minha pasta "2006", dentro de "poesia", dentro de "meus textos", dentro de "meus documentos", dentro de "disco local (F:)", tem uns 37 arquivos. Sem contar aqueles 5 com pseudo-crônicas - uma inacabada. O que elas estão fazendo ali? Tudo bem que a pasta não é "poemas", mas era esse o objetivo. Ah, e aquele livro que comecei a escrever aos 15 anos... finalmente pensei numa história brilhante e o capítulo 9 está há eras no passado.

Ah, eu tenho uma batedeira e faço chantilly em casa pra tomar com cappuccino. E eu tinha nescafé suficiente quando fiz o pó do cappuccino - ele não é só chocolate com canela. Não vou querer aprender a tomar café... sou feliz tomando cappuccino e molhando bolachinha maisena no café e depois jogando ele fora. Mas queria saber ser jornalista. Ter um 'dom'zinho só pra coisa... Mesmo se fosse acabar formando uma banda com quatro vocalistas e um violão. Afinal, eu sei cantar!

Eu não tenho medo das pessoas. Eu não tenho medo de ser um ser humano. Eu amo as pessoas um pouco menos. Digo o amor com o qual eu amo todo mundo que cruza meu caminho. Eu sou um pouco menos carente de atenção. Mas eu saio toda semana, eu tenho conversas sem fim deitada no chão, eu assisto filme comendo brigadeiro, eu leio sob a sombra de uma árvore, tiro fotografias, danço na rua de madrugada, eu faço jantar pra 2, 3, 4... E eu não sou assim, egocêntrica! Troque todos os "eu" da frase anterior por "nós".





Finalmente, eu gosto menos de inventar uma vida pra mim. Eu aprendo a viver a realidade, a aproveitar o que ela me dá. Eu levanto desta cadeira e vou lavar aquela roupa que está de molho. Com licença, vou viver a minha vidinha.

(se alguém visse todas as variações de "licença" que eu fiz até chegar nesta...)