As pernas dobradas, os braços ao redor e a cabeça caída entre elas. Sentada no escuro. A caneca quase vazia, fria, abandonada há tempo. A janela aberta.
Se erguer a cabeça ficará tonta. O mundo dá voltas em torno dela, as imagens são apenas borrões. Ombros, costas, pernas e pescoços. Um tornado de corpos e descorpos que não mais crescem ou se deitam sobre o chão áspero e gelado.
Os olhares que ela capta pelo espelho se quebram em anos e mais anos de azar. A respiração cessa por completo em um acorde misplayed por dedos que tremem e tocam os lábios. Só eles e o sabor da fruta não-fresca e não-tenra de jardim, pomar ou bosque algum.
Fotografias mentais de tempos nevados ou visões de um futuro azul-laranjado de perfume nauseante. A fome confunde-se com ansiedade, estômago/coração vazio.
A essa altura, comer não resolve. Nem o vento que entra pela janela. Nem o resto de café com leite. É melhor não erguê-la.
Entrentar a vida de peito inflado, passo firme e a cabeça bem abaixada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário