Tento, mas não consigo encontrar... o que há de mais belo que uma porteira de fazenda? Tábuas horizontais, das mais diversas formas e cores, uma rara e única escultura. Não há uma porteira igual à outra. E mais único o que estas encerram: lembranças de infância, dias trabalho pesado, tragédias familiares. Tudo que o campo tem de bucólico reflete-se nas fibras da madeira de um portão.
Ah! Que mais preciso além desta estrada uruguaia? A colcha de retalhos que estende-se como estrada, as planícies verdes a perder de vista em qualquer direção que se olhe, delimitadas apenas por estacas envoltas de arame farpado e cuja única conexão com o mundo é uma porteira. De madeira clara, madeira escura. Rústicas, trabalhadas, pintadas de branco, de azul. Fechadas com uma tábua transversal ou com corrente e cadeado. Ah! Minhas preferidas: um dos lados pendendo ligeiramente ao chão, cortando a inquietante simetria. Para mim, elas nem precisam ter significado algum. Sua beleza me impede de fazer reflexões.
Muro? Portão com desenhos e detalhes dourados? Os pequenos barracos no meio do nada, a vida simples, monótona e repetitiva, a pele envelhecida pelo sol, vão rareando e impõem-se no horizonte as casas-grandes dessas senzalas. Grandes casas de campo, com portões grandes e sem simpatia. Logo também as substituem as grandes casas de veraneio, de belas varandas das quais a vista deve ser maravilhosa... Mas sem portão. O que são as memórias de verão se não são guardadas por uma bondosa porteira? Se não há nem a proteção de uma cerca baixa? Ficam mais vivos na mente os cavalos correndo, o cheiro de pasto, o rangido da madeira. Nunca se perde a lembrança de parar para abrir a porteira.
Em meio às tristes e brevemente esquecidas casas, abre-se uma imensidão azul. Quantas histórias não se perderam nessas águas? Ah... afinal, que há de mais belo que o mar?
Um comentário:
AS PORTEIRAS DE MADEIRA, ORAS
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