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quarta-feira, novembro 12, 2008

não, obrigada. comi miojo

Quando você começa a programar esse tipo de coisa, há algo de muito errado. “A Andrea trabalha até tarde hoje”, pensei. “Não preciso me trancar no quarto, posso chorar na cozinha”. A caminho de casa, essa constatação resolvia um dilema sério. Eu não saberia o que fazer primeiro... Tanto a fome quanto a angústia pesavam em meu estômago. Eis a mais patética das cenas: alguém chorando por sobre um prato de miojo sabor yakisoba carne e frango.

Mudei o toque do celular, pois aquele som agora me perturbaria sempre. Estava (não digo calmamente, pois o ônibus tardava a chegar) de pé no ponto quando ouvi (pela última vez) Un dì felice eterea ecoando dentro da minha bolsa. O número era conhecido, a voz também. Os fatos, falta-me o adjetivo preciso – são tantos, na verdade. Fechei o flip e os olhos simultaneamente, mantendo-os assim por trinta segundos. Ao abrí-los, encontrei o ônibus a me esperar. “Choro quando chegar em casa.”

Acho que lágrimas fazem bem para a pele. Nunca as enxugo, gosto de sentí-las secar – especialmente com o vento. Dentro de casa, porém, é abafado. Chovia há três dias e meus pés estavam sempre molhados, como agora a face. É o choro ou o riso que faz rugas? Não consigo lembrar; provavelmente ambos. Decido-me então pela apatia e visto-me nela em frente ao espelho. Pronto, nenhum músculo se move. Pego o telefone, largado fora do gancho, e aperto o 2 – speed dial para o disk-pizza.

- La Traviata Pizzaria, boa noite.
- Quero fazer um pedido: um ombro amigo e seis cervejas, por favor.
- Preferência pela marca?
- Tanto faz. A mais barata.
- E a pizza?
- Não, obrigada. Comi miojo.
- Só aguardar de trinta a quarenta minutos, senhora.

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