AVISO

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quarta-feira, outubro 22, 2008

Amarelinha

(em co-autoria com Maurício Tussi)

Isabela observava atentamente a televisão enquanto chupava os dedos do pé. Uma moça loira de chuquinhas pulava e cantava em um palco quadriculado. "Ela não sabe brincar de amarelinha", concluiu, perplexa.

Um flash multicolorido invadiu a tela acordando-a de seus pensamentos sobre as verdadeiras regras da brincadeira. A mesma moça agora coloria uma lua de cristal, sorria e continuava a pular. "Prefiro colorir sentada no chão", pensou. De repente Pluto e Mickey saltaram à frente do céu estrelado de giz-de-cera e convidaram Isabela para uma viagem: ela era a escolhida, mas precisava desenhar-se no destino para alcaçá-lo.

Após muitos esperneios, sua mãe deixou-a usar os lápis encantados que ficavam guardados em cima da geladeira. Estavam reservados para quando Isabela fizesse dez anos, mas esse era um caso de emergência. E assim se foram resmas e resmas de papel, as paredes de seu quarto, os guardanapos e lençóis. Ela desenhou-se no castelo da Cinderella, na montanha-russa do Pateta, na casa da Minnie Mouse. Mas nada aconteceu.

Deitada no tapete, entre os lápis espalhados, Isabela teve uma visão. Pluto, alado, cochichou em seu pequeno ouvido: "você pode pintar as paredes, mas apenas quem colore seu próprio interior chegará à Disney". Na hora, ela lembrou-se das tintas de papai guardadas na garagem. Saiu correndo de pés descalços e quase tropeçou no degrau.

Com dificuldade, arrancou a tampa de uma lata cor azul-royal. O cheiro encheu suas narinas e, sem respirar, ela tomou um grande gole. O gosto era ruim, mas o sacrifício era válido. Bebeu como se fosse nescau. Sentiu cócegas esquisitas na barriga e os pés foram deixando o chão. Tudo ficou branco. Ao longe, uma torre se erguia entre as brumas. Quando as nuvens se dissiparam, Isabela encontrou seu mundo encantado. Pluto corria em volta do castelo e Mickey acenava lá de baixo. "Vamos brincar de amarelinha?", ele gritou. E ela desceu do céu azul-royal para ensinar-lhe as regras.

Um comentário:

Anônimo disse...

adoro.