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segunda-feira, junho 16, 2008

free franz

1. Augusto era um menino magrela, mas de bochechas especialmente salientes.

2. Franz era um peixinho dourado, que na verdade era alaranjado.

3. Não se pode dizer que Augusto e Franz fossem amigos. Augusto gostava de Franz; lhe dava comida e limpava seu aquário. Franz, no início, tinha medo de Augusto – aquele rosto redondo e fantasmagórico. Depois percebeu que o menino era inofensivo e passou a irritar-se com sua presença.

4. Augusto passava o dia na escola.

5. Franz passava o dia no aquário.

6. Enquanto Augusto corria pelo pátio ou se concentrava para aprender na sala de aula, Franz nadava de uma parede de vidro à outra. Até se cansar e flutuar bem no centro do globo d'água.

7. Franz pensava com o cérebro de alcaparra de um peixinho mas, mesmo assim, pensar sozinho 24h por dia, ao longo de vários longos dias, era muita reflexão. Mente vazia... Franz foi tomado por ideais de libertação. Passava os dias exercitando suas nadadeiras em nados circulares; gastava as noites traçando estratagemas.

8. Na manhã de sábado, o dia oficial de faxina no aquário, Augusto encontrou Franz boiando. Seus pequenos olhinhos fixavam o fundo transparente de seu pequeno lar.

9. A mãe de Augusto despejou Franz e a água na qual ele vivera sua última semana no vaso sanitário. Augusto jogou por sobre o que restara da comida de peixe, como uma homenagem. Com as mãos juntas atrás do corpo, fechou os olhos e abaixou a cabeça. Sua mãe deu a descarga.

10. Tubos, esgotos e vários ambientes desgradáveis depois, Franz descobriu-se olhando para o céu através do espelho d'água acima dele. A imagem era turva e esverdeada, como uma tela impressionista. Seu novo lar era repleto de lugares e aventuras a descobrir: garrafas naufragadas, sacos plásticos viajando na correnteza, oásis de espuma boiando por toda a parte. Franz estava livre. Estava no paraíso.

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