Vivo num mundo de fantasmas.
Escondo-me entre livros, papéis e roupas espalhadas. Tenho medo de arrumar meu quarto. Mas tudo que escondo é para ser encontrado. Queria que os fantasmas pudessem entrar em meus pensamentos, não apenas pairar neles. Entrar e ver a si mesmos como os vejo. Ver-me, vendo com meus olhos. Não quero facilitar, abrir a porta. Tranco-a, tranco-me, apóio a testa nos joelhos e espero. Não gosto de roubar em meus próprios jogos. Abraço meus fantasmas, torno-os táteis com almofadas. Não são os de quem já morreu, ou se perdeu. São as fôrmas do avesso, as idéias que vieram depois. Anos depois. Minha mente é uma fábrica de fantasmas. Crio minha casa assombrada, encho-a de companhia liquefeita. Afogo-me e não sei como torná-los sólidos. E quando eles encontram seus corpos, confundem-se, confundem-me. Não posso vê-los; perco-me. Desaprendi carne e osso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário